quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Fantasia e Deturpação das Idéias

Por esses dias aconteceu algo comigo comum aos sacerdotes de cultos religiosos de matriz africana, mas decidi postar aqui no blog para que os leitores tivessem noção sobre a deturpação sobre as idéias no culto.


Estou no terreiro quase no início da gira, quando chega uma jovem querendo informações sobre os tipos de trabalho que realizamos. Quando perguntei qual era a intenção dela, ficou com certo receio em dizer. Logo tomou coragem e disse:

― Eu quero fazer um Pacto com o Diabo!!!

Quando terminou a frase eu quase caí na gargalhada. Ela ainda continuou:

― Quero ter dinheiro e um corpo bonito.

A maioria dos sacerdotes teria feito a jovem passar vergonha, outros teriam a convidado a se retirar. Mas como sempre fui paciente e expliquei.




Dentro do culto religioso de matriz africana NÃO EXISTE O DIABO. Essa forma ou entidade do mal é uma criação de outras religiões para ter o controle sobre a comunidade. Como a muito se diz que se você questionar ou praticar certas coisas, “queimará no fogo do inferno”. No culto aos Orixás isso não existe, a nossa religião não tem intenção de dominar a mente de seus adeptos e muito menos colocar a culpa de atos pavorosos praticados pelos homens em um demônio ou coisa do tipo. A maldade é algo que está no ser humano, em alguns há o cultivo desse sentimento em outros há uma contenção. Mas tudo depende do homem e não de uma entidade do mal.

É claro que existem espíritos que têm na sua essência a maldade e assim também a pratica, porém apesar da indução não comete um ato na matéria que a matéria também não induza.

Sendo assim coloque a culpa do ato em quem pratica o ato. A responsabilidade sobre os atos bons ou ruins é somente da pessoa que está realizando, pode até ser induzido por algum espírito mas acreditem no que falo, a indução depende da propensão da capacidade do homem e somente dele. Não é induzido a praticar o mal aquele que é bom. Por que isso? Porque depende da pessoa e não de uma entidade do mal. A própria maldade é que atrai a essência da maldade.

Aquele que procura o Diabo, Demônio ou coisa do tipo, não procure em um terreiro de Candomblé ou Umbanda ou qualquer religião de matriz africana, pois lá essa Fantasia Não Existe. Lá o Diabo não Existe!



Axé!!!

Indignação

Recebi um email do SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA referente à decisão da Ministra Dilma Rousseff em adiar o Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. Decidi então expor esse email aqui no blog para que todos tenham acesso a essa informação.

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Procurado pelo repórter Lucas Maia do jornal “O Estado de São Paulo” para comentar sobre a polêmica decisão da ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, adiando o lançamento do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa, Pai Ronaldo Linares expõe sua opinião:


Dilma contra a Umbanda

O jornal “O Estado de São Paulo” publicou no dia 21/01/2010 na página A4, uma manchete que dizia:

“DILMA ADIA LEGALIZAÇÃO DE TERREIROS DE UMBANDA PARA EVITAR UMA CRISE” e, como sub-título: ‘PLANO SERIA LANÇADO ONTEM, MAS FOI BARRADO POR RECEIO DE ATRITOS COM IGREJA CATÓLICA E EVANGÉLICOS NO ANO ELEITORAL“. E sob uma foto da ministra, a legenda: “EMPENHO - Desde o ano passado, Dilma tem feito esforços para se aproximar de católicos e evangélicos”.

No corpo da matéria vemos que a candidata à Presidência da República mandou a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial adiar o anúncio do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. O plano prevê ainda a legalização fundiária dos imóveis ocupados por Terreiros de Umbanda e Candomblé - além de até mesmo o tombamento de casas de culto - e seria lançado no dia anterior ao que se comemora o DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA (22 de janeiro).

O ministro-chefe da Secretaria da Igualdade Racial, Edson Santos, teria afirmado que “o programa de promoção de políticas públicas para as comunidades tradicionais de Terreiros já estava adequado, mas, como é um plano de governo, precisa ser pactuado para não haver constrangimentos.” Afirma ainda o jornal, que o ministro Santos não escondeu a decepção com a ordem da ministra Dilma.

E mais adiante, o coordenador das reuniões realizadas para a confecção do plano, o sub-secretário de Políticas para as Comunidades Tradicionais, Alexandro Reis, tentou contornar o desapontamento geral afirmando: “A preocupação do governo é que determinados setores, por motivos eleitorais, utilizem o Pano de Proteção à Liberdade Religiosa como algo negativo”. Reis admitiu que o texto “precisa ser pactuado com evangélicos e católicos para não ser contaminado pelo ambiente político de 2.010”. Disse, no entanto, que os Terreiros não podem participar dessa briga.

Na mesma data (21/01/2010) fui procurado pelo repórter Lucas Maia do Estadão, que desejava saber qual a opinião da Umbanda sobre a reportagem publicada, sendo que nossa resposta foi publicada em 22/01/2010 (página A9). Na ocasião mencionei que repudiava o texto como uma violação à Constituição, que afirma: todos os brasileiros são iguais perante a lei. Então, para salvaguardar o direito de umbandistas e candomblecistas (e demais cultos de raízes africanas), é necessário o aval das igrejas evangélicas e católicas? E mais ainda, a declaração do sub-secretário Alexandro Reis de que Terreiros não podem participar dessa briga.

Se o assunto em pauta diz respeito aos nossos Templos de Umbanda ou Candomblé, porque é que não podemos participar dessa BRIGA? Como disse o sr. Reis, será que teremos que contratar como advogados de nossa causa os bispos evangélicos que nos demonizam e os padres católicos que nos desprezam?

Se a ministra, candidata à Presidente da República, antes mesmo da campanha já nos discrimina dessa forma, o que devemos esperar se for eleita?

Pergunto:

Onde fica a Constituição Brasileira?
Onde fica a inclusão social?
Onde fica a isonomia?
Onde fica o sacro-santo direito, que até ao mais cruel assassino, a lei assegura o direito de se defender?

Não nos é dado sequer o direito de participar da briga!
Não nos é permitido a defesa e, nem mesmo buscar como cidadãos que somos, o direito de professar em paz nossos ritos religiosos ao amparo da lei que, constitucionalmente, temos direito!

É preciso antes agradar padres e pastores?

Todos nós esperamos que o Presidente Lula, partindo de uma base tão humilde e, através dos trabalhadores, chegou a máxima magistratura brasileira, e que tanto se empenha na candidatura da ministra Dilma como sua sucessora, alerte a mesma sobre esse “tiro no pé”, essa humilhação com que o sub-secretário Reis afronta a comunidade afro-brasileira quando afirma que não devemos participar dessa briga e que o pacto com católicos e evangélicos é que evitarão a contaminação política.

Não somos vermes, bactérias ou micróbios políticos e se, o assunto em pauta nos diz respeito, TEMOS SIM TODO O DIREITO DE PARTICIPAR DESSA BRIGA!.

É dessa forma que comemoramos o DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA?

É DESSA FORMA QUE A SECRETARIA DE PROMOÇÃO À IGUALDADE RACIAL PROMOVE A IGUALDADE RACIAL?

A propósito das igrejas que não devem ser melindradas, o mesmo jornal na mesma data (na página A23), traz a notícia de que o Papa Bento XVI convocou uma reunião do episcopado para tratar da proteção dada pela Igreja por 30 anos, a padres e bispos católicos pedófilos que violaram meninos na Irlanda e também menciona o fato de a Igreja Católica ter gasto US$ 615 milhões (equivalente a cerca de R$ 1,9 bilhão) com indenizações pagas às vítimas dos padres pedófilos nos Estados Unidos. Esta é a Igreja que não deve ser melindrada? Lembrando ainda que também não devem ser melindrados bispos e pastores envolvidos em mensalões (que a mídia mostrou rezando e agradecendo a Deus - ou ao Diabo) pelo sucesso das maracutaias que propiciaram dinheiro para encher meias, cuecas, etc. Estes também não devem ser melindrados?

Finalizando:

Ministra, nós também votamos.
Desculpe, mas nós também ficamos melindrados.

Babalaô Ronaldo Antonio Linares - irmão-presidente
da FEDERAÇÃO UMBANDISTA DO GRANDE “ABC”
mantenedora do SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA