quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Indignação

Recebi um email do SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA referente à decisão da Ministra Dilma Rousseff em adiar o Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. Decidi então expor esse email aqui no blog para que todos tenham acesso a essa informação.

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Procurado pelo repórter Lucas Maia do jornal “O Estado de São Paulo” para comentar sobre a polêmica decisão da ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, adiando o lançamento do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa, Pai Ronaldo Linares expõe sua opinião:


Dilma contra a Umbanda

O jornal “O Estado de São Paulo” publicou no dia 21/01/2010 na página A4, uma manchete que dizia:

“DILMA ADIA LEGALIZAÇÃO DE TERREIROS DE UMBANDA PARA EVITAR UMA CRISE” e, como sub-título: ‘PLANO SERIA LANÇADO ONTEM, MAS FOI BARRADO POR RECEIO DE ATRITOS COM IGREJA CATÓLICA E EVANGÉLICOS NO ANO ELEITORAL“. E sob uma foto da ministra, a legenda: “EMPENHO - Desde o ano passado, Dilma tem feito esforços para se aproximar de católicos e evangélicos”.

No corpo da matéria vemos que a candidata à Presidência da República mandou a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial adiar o anúncio do Plano Nacional de Proteção à Liberdade Religiosa. O plano prevê ainda a legalização fundiária dos imóveis ocupados por Terreiros de Umbanda e Candomblé - além de até mesmo o tombamento de casas de culto - e seria lançado no dia anterior ao que se comemora o DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA (22 de janeiro).

O ministro-chefe da Secretaria da Igualdade Racial, Edson Santos, teria afirmado que “o programa de promoção de políticas públicas para as comunidades tradicionais de Terreiros já estava adequado, mas, como é um plano de governo, precisa ser pactuado para não haver constrangimentos.” Afirma ainda o jornal, que o ministro Santos não escondeu a decepção com a ordem da ministra Dilma.

E mais adiante, o coordenador das reuniões realizadas para a confecção do plano, o sub-secretário de Políticas para as Comunidades Tradicionais, Alexandro Reis, tentou contornar o desapontamento geral afirmando: “A preocupação do governo é que determinados setores, por motivos eleitorais, utilizem o Pano de Proteção à Liberdade Religiosa como algo negativo”. Reis admitiu que o texto “precisa ser pactuado com evangélicos e católicos para não ser contaminado pelo ambiente político de 2.010”. Disse, no entanto, que os Terreiros não podem participar dessa briga.

Na mesma data (21/01/2010) fui procurado pelo repórter Lucas Maia do Estadão, que desejava saber qual a opinião da Umbanda sobre a reportagem publicada, sendo que nossa resposta foi publicada em 22/01/2010 (página A9). Na ocasião mencionei que repudiava o texto como uma violação à Constituição, que afirma: todos os brasileiros são iguais perante a lei. Então, para salvaguardar o direito de umbandistas e candomblecistas (e demais cultos de raízes africanas), é necessário o aval das igrejas evangélicas e católicas? E mais ainda, a declaração do sub-secretário Alexandro Reis de que Terreiros não podem participar dessa briga.

Se o assunto em pauta diz respeito aos nossos Templos de Umbanda ou Candomblé, porque é que não podemos participar dessa BRIGA? Como disse o sr. Reis, será que teremos que contratar como advogados de nossa causa os bispos evangélicos que nos demonizam e os padres católicos que nos desprezam?

Se a ministra, candidata à Presidente da República, antes mesmo da campanha já nos discrimina dessa forma, o que devemos esperar se for eleita?

Pergunto:

Onde fica a Constituição Brasileira?
Onde fica a inclusão social?
Onde fica a isonomia?
Onde fica o sacro-santo direito, que até ao mais cruel assassino, a lei assegura o direito de se defender?

Não nos é dado sequer o direito de participar da briga!
Não nos é permitido a defesa e, nem mesmo buscar como cidadãos que somos, o direito de professar em paz nossos ritos religiosos ao amparo da lei que, constitucionalmente, temos direito!

É preciso antes agradar padres e pastores?

Todos nós esperamos que o Presidente Lula, partindo de uma base tão humilde e, através dos trabalhadores, chegou a máxima magistratura brasileira, e que tanto se empenha na candidatura da ministra Dilma como sua sucessora, alerte a mesma sobre esse “tiro no pé”, essa humilhação com que o sub-secretário Reis afronta a comunidade afro-brasileira quando afirma que não devemos participar dessa briga e que o pacto com católicos e evangélicos é que evitarão a contaminação política.

Não somos vermes, bactérias ou micróbios políticos e se, o assunto em pauta nos diz respeito, TEMOS SIM TODO O DIREITO DE PARTICIPAR DESSA BRIGA!.

É dessa forma que comemoramos o DIA NACIONAL DE COMBATE À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA?

É DESSA FORMA QUE A SECRETARIA DE PROMOÇÃO À IGUALDADE RACIAL PROMOVE A IGUALDADE RACIAL?

A propósito das igrejas que não devem ser melindradas, o mesmo jornal na mesma data (na página A23), traz a notícia de que o Papa Bento XVI convocou uma reunião do episcopado para tratar da proteção dada pela Igreja por 30 anos, a padres e bispos católicos pedófilos que violaram meninos na Irlanda e também menciona o fato de a Igreja Católica ter gasto US$ 615 milhões (equivalente a cerca de R$ 1,9 bilhão) com indenizações pagas às vítimas dos padres pedófilos nos Estados Unidos. Esta é a Igreja que não deve ser melindrada? Lembrando ainda que também não devem ser melindrados bispos e pastores envolvidos em mensalões (que a mídia mostrou rezando e agradecendo a Deus - ou ao Diabo) pelo sucesso das maracutaias que propiciaram dinheiro para encher meias, cuecas, etc. Estes também não devem ser melindrados?

Finalizando:

Ministra, nós também votamos.
Desculpe, mas nós também ficamos melindrados.

Babalaô Ronaldo Antonio Linares - irmão-presidente
da FEDERAÇÃO UMBANDISTA DO GRANDE “ABC”
mantenedora do SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA

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