sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Doação e Maldade, O Paradoxo da Crença Sem Razão.


 
Neste tópico vou descrever uma situação que testemunhei. Algo absurdo mas real. Todos nós temos a liberdade religiosa. Podemos acreditar naquilo que nos convence que seja o melhor caminho a seguir, que nos traz a satisfação dentro da crença.

No dia 28 de setembro de 2010 foi realizado, no Terreiro Caboclo Pena Azul, uma das mais tradicionais festas de nossa religião, a festa de Cosme, Damião e Doum. Como todos sabem, é de tradição colocar doces diversos em saquinhos com o intuito de presentear as crianças.

Dois dias após a festa eu e minha esposa nos dirigimos até uma creche para crianças carentes. Levamos duas grandes caixas de saquinhos de doces para presentear as crianças. Chegando à creche, perguntei para uma das funcionárias se aceitavam os doces da festa de Cosme, ela por sua vez respondeu que sim, sem pestanejar. Então peguei uma das caixas e levei até o piso superior. Quando desci para pegar a outra caixa, percebi certa discussão entre minha esposa e uma mulher que se encontrava sentada próximo à porta que passei. Subi com a outra caixa, quando retornei, a discussão continuava, então chamei minha esposa para se dirigir ao piso superior para ver as crianças, que estavam se alimentando naquela hora. A responsável por elas ficou muito grata com a doação, pois conhece suas necessidades.

Quando estávamos nos retirando, minha esposa falou para aquela que estava discutindo à pouco, que deveria rezar mais.

Chegando ao carro, ela me contou o que havia ocorrido. Quando levei os doces até o piso superior da creche, essa mulher, citada acima, disse a seguinte frase:

            ― Não dá paras as crianças não. Joguem fora, é de macumba, é maldade!

Minha esposa é um pouco estourada e se manifestou contra o comentário. Disse que era umbandista, e as fábricas cujos doces eram vendidos para os umbandistas, eram as mesmas que vendiam para os adeptos das outras religiões, inclusive a dela.

A certeza sobre os segredos da vida não existe, pelo menos ainda. Portanto podemos acreditar naquilo que achamos mais ponderável. Acho um completo absurdo algumas pessoas (MUITAS) pré conceituarem que os adeptos da umbanda ou candomblé são praticantes de maldades. Mas quem segue o caminho da nossa religião conhece a dedicação para ajudar a todos aqueles que buscam ajuda, seja o problema que for, sem criticas.

Ainda podemos notar a falta de bom senso, a falta de opinião fundamentada no intelecto. Pois é completamente ilógico o ato de doar doces para crianças carentes ser algo maldoso. É irracional!
Agora teve ser muito bem percebido o fato de que não é a religião, seja ela qual for, que pratica a maldade. A maldade provém de desejos e atitudes pessoais, que às vezes se esconde atrás da religião, que não tem nada a ver com isso, para conseguir uma desculpa pelos seus atos. Por isso temos padres, pastores e pais de santo que aproveitam de seus cargos para enganar ou molestar os adeptos. Mas isso não significa que a religião é maldosa, e sim o indivíduo.

Já vimos muitos casos de pessoas que enfiaram agulhas em crianças, e a desculpa são vozes ou práticas da tão falada magia negra. Sejamos verdadeiros, o problema não é magia alguma, mas sim a maldade e o desejo do indivíduo. Assim como padres pedófilos ou pastores aproveitadores. Não é a religião, é o indivíduo.
Onde vai chegar o preconceito religioso? Será que é muito complicado pedir para que qualquer adepto coloque sua consciência acima de sua crença? Será que a religião que eu sigo já traz o conceito de quem eu sou?

Devemos lutar contra o entorpecimento da mente humana, colocando nossa consciência acima da crença absoluta em uma pessoa que instiga a diferenciação entre os seres humanos e suas formas de crenças.
É por colocar a crença acima de sua razão, que alguns adeptos se vestem com explosivos e tiram além de sua vida, a vida de outrem em nome de Deus. Com a promessa de ter um bom lugar após a morte.

Sejamos racionais, é maldade doar doces para crianças carentes, ou descriminar um ser humano por seguir uma religião diferente da sua? É maldade realizar uma festa para aproximar de nossos caminhos a essência da criança, a essência de aproveitar a vida de uma forma inocente, ou invadir terreiros e quebrar instrumentos que são tão importantes para aquela comunidade religiosa?

Até quando vamos ser pré julgados simplesmente por seguir aquilo que gostamos de seguir, sem importunar ninguém. A maldade não está em terreiros, igrejas ou templos, está no coração do indivíduo, por isso existem os assassinatos, agressões, estupros e demais outros. E não é a religião que é responsável por isso.
Mas uma coisa é verdade, se não temos nem a liberdade de realizar doações sem sermos importunados, fica extremamente complicado.

Porém temos fé, muita fé. Fé sem a necessidade de julgar outrem. Porque não alimentamos nossa fé sobre o fundamento de que necessitamos porque outros realizam maldades. Somos capazes de enxergar que todos possuem sentimentos e sentimos de uma mesma forma, somos todos iguais. Não importa a crença, isso nunca mudará, pode acreditar no que quiser, mas sempre seremos iguais.
Todas as religiões são maravilhosas, mas a certeza sobre a vida e morte ninguém possui.

Axé a todos!